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sábado, 15 de maio de 2010

Festejos em Portugal do fim da II Guerra




Não são necessárias muitas palavras. A reportagem chega com uns dias de atraso, mas com Futebol, Fátima e o eterno Fado dos impostos pelo meio... é preciso dar um desconto. Saiu no Diário de Notícias e, no final, (como sempre) tem o "link" de acesso...






Fim da Guerra
irrompiam palmas e 'vivas' em lisboa

por FERNANDO MADAÍL


Apalavra regozijo, usada para descrever as reacções populares ao fim da guerra na Europa, repetia-se nas notícias enviadas pelos correspondentes do DN em Castelo Branco e na Marinha Grande, na Régua e em Pena-macor, em Vila Franca de Xira e em Vila Nova da Barquinha.

A primeira página de 9 de Maio de 1945 rasgava com a foto de Salazar e duas das frases que o ditador proferira na "histórica sessão de ontem da Assembleia Nacional": "Bendigamos a paz! Bendigamos a vitória!" E, como se, anos antes, não tivesse na sua secretária o retrato de Mussolini, o chefe do Governo vangloriava--se: "Atravessámos incólumes a guerra sem sacrificar nem a dignidade da nação nem os seus interesses e amizades."

Outro título, menos destacado, noticiava que "o dia da vitória na Europa foi festejado em Lisboa com grandes manifestações populares". "Durante a manhã, tarde e noite de ontem, o povo de Lisboa prosseguiu nas suas entusiásticas demonstrações de alegria, organizando grandes e pequenas manifestações às embaixadas e legações das Nações Unidas [ainda não era a ONU, mas as nações aliadas], nomeadamente às embaixadas da Inglaterra, do Brasil e dos Estados Unidos da América do Norte e à legação da França."

"Até ao meio-dia tinham chegado às legações nada menos de cinco manifestações, constituídas na sua maioria por estudantes do ensino superior, secundário e industrial e comercial", descrevia o jornal. Um dos alunos da Faculdade de Letras, que também mobilizou os estudantes do secundário, chamava-se Mário Soares e recordaria esse "dia tão ansiosamente esperado" no seu livro Portugal Amordaçado. "Havíamos arranjado bandeirinhas dos países aliados e descemos o Chiado em grande algazarra, atravessando o Rossio. A zona dos cafés da Baixa regurgitava de gente que, manifestamente, 'esperava que qualquer coisa se passasse'", descreveria Mário Soares. O DN não destoava deste tom. "E durante toda a tarde e começo da noite não cessaram as manifestações - barulhentas, vibrantes e ordeiras."

Havia "satisfação" em Elvas, "grande entusiasmo" em Viseu, festejos na Covilhã, um "indiscritível contentamento" no Espinhal, festa em Benavente, tinham sido "queimados muitos morteiros" em Vila Nova da Barquinha e, em Ansião, "o povo lançou girândolas de foguetes". Em Vila Franca de Xira, "desde a noite de ontem e até à hora a que estamos a telefonar, ainda a população não parou de deitar foguetes e mostrar o seu grande entusiasmo".

"À meia-noite, os cafés [da Baixa de Lisboa] encontravam-se repletos e ostentavam as mesas cheias de pequenas bandeiras das nações aliadas. Num ponto ou noutro irrompiam palmas e 'vivas' ao mais ligeiro pretexto." O que o jornal não referia era a que se referiam os "vivas". Mas escrevia Mário Soares: "Era então um mar de gente, milhares e milhares de pessoas que clamavam: 'Vitória! Vitória! Liberdade! Liberdade! De-mo-cra-cia!' Um ou outro grito isolado: 'Morra o fascismo!', 'Abaixo o Tarrafal!'." Não se suspeitava da traição das democracias ocidentais à oposição portuguesa.


Link: http://dn.sapo.pt/gente/Interior.aspx?content_id=1570338

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