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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Ano novo atribulado de Don Howell

Na manhã do dia 31 de Dezembro de 1943 aterrava de emergência, perto de Grândola, um bimotor Lockheed Hudson da Real Força Aérea Britânica.

Don Howell era o navegador deste avião que esteve envolvido num combate com aviões alemães, sobre Baía da Biscaia, onde viu um dos seus motores ser destruído.

Depois de muita troca de correspondência tive o prazer de o receber no Algarve no ano 2000. Uma madrugada arrancámos para a zona de Grândola em busca da sua história e, se possível, do local onde havia aterrado quase 60 anos antes.

Depois de algumas voltas que nos levaram até ao Rio Sado - muito longe do local onde tudo acontecera - voltámos para trás e conseguimos encontrar o rasto daquele pequeno momento em plena segunda Guerra Mundial.

Na aldeia da MUDA - a cerca de 20 quilómetros de Grândola - encontrámos testemunhas do incidente e também o local onde Don e os seus três companheiros realizaram a aterragem de emergência.

 Recuperámos várias peças de metal derretido enterradas na areia. O incêndio que destruiu toda a fuselagem "enterrou" na areia a confirmação do sítio.



Don Howell (à esquerda), com os irmãos Júlio e José Pereira  e ainda o filho de um deles perto da Muda, no local onde o avião do inglês aterrou de emergência no dia 31 de Dezembro de 1943.

Durante a sua visita a Portugal fiz pessoalmente um registo de imagens da viagem à Muda. A câmara foi-me emprestada pelo João Bispo e o meu desconhecimento sobre o funcionamento do equipamento resultou em imagens sobre-expostas que mesmo assim ainda consegui utilizar.

Felizmente pedi, posteriormente, a um amigo - o Jorge Belo - repórter de imagem profissional que me ajudasse a gravar uma entrevista em condições com o Don. Durante mais de uma hora o britânico respondeu a todas as minhas perguntas...

Agradeço tanto ao João Bispo como ao Jorge Belo a disponibilidade mostrada para me aturar...

Em 2007, durante a realização da disciplina de inglês na Universidade do Algarve, foi-me pedido para apresentar um vídeo - obviamente em inglês - sobre um tema à escolha.

A entrevista e as imagens de Don nunca tinham sido utilizadas. Propus aproveitar algum desse material.

O professor António Lopes abriu-me a porta a essa possibilidade e deixou claro que tinha grandes expectativas...

Espero ter correspondido...

O trabalho tem pouco mais de 20 minutos e está narrado no meu inglês nem sempre perfeito.

Tanto as declarações de Don como as testemunhas portuguesas são apresentadas tal como foram recolhidas. Peço desculpa a quem não entende inglês, mas não me é possível fazer tudo...

Nestes minutos Don conta apenas a sua aventura até à aterragem na Muda.


A sua experiência em Portugal, nas Caldas da Rainha e os seus contactos com os refugiados que ali se encontravam, ficarão para outra oportunidade...


Quando este vídeo foi editado já Don Howell não se encontrava entre nós. Fica o meu abraço para ele e para a família.

O aterrem em Portugal aproveita para desejar a todos os sues amigos e leitores um feliz 2012...

Um Abraço
Carlos Guerreiro
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sábado, 24 de dezembro de 2011

Desejos de um Bom Natal 2011

O "Aterrem em Portugal" deseja a todos os seus seguidores, amigos, leitores, enfim a todos os que passam por aqui um NATAL MUITO FELIZ.

Para ilustrar estes desejos ficam umas senhas de racionamento com o Bacalhau, a Massa e o Arroz devidamente levantados. Ingredientes para uma refeição de Natal, dentro do possível...



Para recordar outros tempos... (ou talvez não).

Um Bom Natal
Carlos Guerreiro

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Campanha de Natal

No “Aterrem em Portugal” é Natal durante todo o ano, razão porque oferecermos histórias do Portugal da II Guerra Mundial COMPLETAMENTE GRATUITAS.

Durante o próximo ano queremos oferecer mais histórias, a mais pessoas. Se ainda não o fez, junte-se a nós e “Partilhe” esta oferta com os seus amigos… diga-lhes para também fazerem um “Like” na nossa página do "Facebook".

E para entrarmos no espírito da época ficam alguns artigos do Boletim da Mocidade Portuguesa Feminina da edição de Dezembro de… 1940.



Uma capa muito prendada…



Uma crítica ao Natal “materializado e desvirtuado”, onde se “compra um pinheirito que, em vez de queimar-se ou plantar-se no quintal, se manda envasar na sala. Depois enfeita-se com luzes, ouropéis, vidrilhos, cromos, avelórios e bocadinhos de algodão em rama, que fingem neve que não cai…





(Para facilitar a leitura a página foi digitalizada em separado. Clique sobre ela para a ampliar.)



(Para facilitar a leitura a página foi digitalizada em separado. Clique sobre ela para a ampliar.)









“Foi S. Francisco de Assis, em 1223, que idealizou o presépio de que deu origem aos presépios de figuras que se espalharam pelo mundo inteiro”. A história do presépio nas páginas centrais...


(Para facilitar a leitura a página foi digitalizada em separado. Clique sobre ela para a ampliar.)

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“E agora que a guerra alastra, deixando rastos de sangue sobre a terra, cumpri bem o vosso dever.” O apelo de uma das filiadas na última página (contra-capa) da revista.


Ofereça pequenas grandes histórias aos seus amigos…


O "Aterrem em Portugal" deseja-lhe UM BOM NATAL!!

Carlos Guerreiro

sábado, 17 de dezembro de 2011

Uma "doce" herança da II Guerra Mundial

Os rebuçados Dr. Bayard são são mais um exemplo das "heranças" que ficaram no país após a II Guerra Mundial. Fica a reportagem de Rui Pedro Antunes no "Diário de Notícias"...

Amigos do peito há mais de sessenta anos
por RUI PEDRO ANTUNES
16-12-2011


Dr. Bayard. Numa pequena fábrica da Amadora são produzidas três toneladas de rebuçados todos os dias. A culpa é da II Guerra Mundial.

Os dedos franzinos de José António Matias, ainda criança, habituaram-se desde cedo a enrolar rebuçados com a cara Dr. Bayard. A história do agora proprietário e gerente da fábrica confunde-se com a dos famosos rebuçados peitorais. Os doces, no entanto, "já eram conhecidos" quando José António nasceu. Foi o pai, Álvaro Matias, quem construiu a pulso a marca Dr. Bayard.

Tudo começou com a Segunda Guerra Mundial. Em 1939, Álvaro trabalhava numa mercearia da capital, quando conheceu um farmacêutico francês refugiado em Lisboa: o dr. Bayard. O gaulês julgava ficar pouco tempo em Portugal, mas a guerra prolongou-se e Bayard encontrou em Álvaro um amigo que lhe facilitava o acesso à comida numa altura em que esta era racionada.

"O meu pai servia de cicerone e levava o casal Bayard a visitar Lisboa e as redondezas ao fim-de-semana", conta José António. Foi o início de uma grande amizade. Com o fim da guerra, os Bayard regressaram a França, mas não sem antes retribuir a delicadeza de Álvaro Matias.

Antes de partir, dr. Bayard deixou ao português uma receita de rebuçados num papel escrito à mão, ainda hoje guardada num local secreto pela família Matias. Álvaro não lhe pegou logo, continuando a trabalhar em mercearias e a fazer horas extras nocturnas para vender rebuçados nos bares dos cinemas lisboetas. "Foi aí que ele pensou: se posso vender rebuçados, porque não fazê-los? E decidiu tentar executar a receita do dr. Bayard, com a ajuda da minha mãe", explica José António.

(...)

Para ler o resto da notícia clique AQUI.

Boas leituras...
Carlos Guerreiro

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Memórias para o olhar

Pratos e cartazes podem não ter nada em comum, mas neste caso contribuem para perceber como a arte popular ou as enormes máquinas de propaganda acompanharam a II Guerra Mundial. Em Alcobaça e em Lisboa exposições reúnem peças que podem ser vistas até Fevereiro.


Mais de 200 cartazes, panfletos e filmes contam a história da propaganda de guerra dos vários países que participaram no conflito. Co-produzida pelo Museu do Caramulo e Museu Colecção Berardo, a exposição divulga material produzido pelos Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Japão e União Soviética.

Numa nota da organização pode ler-se que o cartaz “foi a principal forma de propaganda” durante a guerra, “pela facilidade de produção e de aplicação em qualquer local, permitindo que a mensagem estivesse sempre presente junto dos cidadãos, apelando a que dessem, produzissem e se sacrificassem”.








Unidos somos fortes...






... Vocês transportam os estandartes contra o bolchevismo...







... a caminho da Liberdade...







... Não vencemos sem elas...





Reportagem da Sic sobre a exposição «A Arte da Guerra - Propaganda na II Guerra Mundial» que pode ser vista até 8 de Fevereiro, todos os dias, entre as 10 e as 19 horas.


Estes trabalhos foram produzidos por agências governamentais ou artistas de nomeada dos vários países e incorpora já muito do que será a propaganda e a publicidade dos anos do pós-guerra: imagens fortes e frases ou slogans de fácil percepção.

Em Alcobaça, no Armazém das artes, encontra-se uma exposição ainda mais curiosa. São 31 pratos de uma colecção, produzidos pela Olaria de Alcobaça e que reproduzem - através de frases e quadras – distintos momentos da II Guerra Mundial.


«Pratos de Guerra – Pratos de Paz» pode ser visitada até 26 de Fevereiro, no Armazém das Artes em Alcobaça, de 2ª a 6ª entre as 11 e as 18 horas e durante o fim de semana, das 14 às 18 horas.


Aparentemente os pratos eram produzidos na olaria quase de forma clandestina, pois poucas pessoas pareciam ter conhecimento disso , sempre que se registavam momentos importantes do lado aliado – vitórias importantes ou invasões, por exemplo.



O número exacto destes “Pratos de Guerra - Pratos de Paz” é desconhecido, e os 31 presentes na exposição encontravam-se na posse de um particular.

Boas visitas!

Carlos Guerreiro

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

«Ministério das Propagandas» MILHÕES VOAM PARA COMBATER

São cerca de 20 páginas, onde os americanos atiram para a máquina de propaganda uma das principais armas do seu arsenal: o número de combatentes que podem colocar no campo de batalha.

Não é por acaso que este folheto associa esses números – 2 milhões – à arma que mais fascinava o mundo (e Portugal) na época: a aviação. Olhados como a nata das tropas, os pilotos encarnavam o espírito heróico da nova guerra.

Capa do folheto, que dá ênfase ao número de aviadores que estão a ser treinados nos Estados Unidos da América.


Nesta altura já a Batalha de Inglaterra tinha terminado, e o elogio de Churchill aos pilotos que a tinham combatido – “Nunca tantos deveram tanto a tão poucos” (Never was so much owed by so many to so few, no original) – ainda ecoava nos ouvidos de todos.

O folheto é provavelmente do segundo semestre de 1942. Já se encontra uma referência ao ataque a Tóquio (Abril de 1942), mas ainda não surgem imagens de aparelhos modernos como fortalezas voadoras ou caças, que deixarão a marca americana na guerra.


Mais referências ao “poderio” americano reafirmando o número de aviadores que estão a ser preparados, as exigências que são feitas aos candidatos e a quantidade de aviões que os americanos esperam colocar no ar até ao final de 1943.




Algumas fases do treino dos cadetes aviadores que passam pela preparação física e técnica.



Diversas fases do treino de voo dos candidatos a aviadores, em vários tipos de aparelhos.


Os primeiros actos “heróicos” dos aviadores americanos….








A contracapa do folheto com as cores da América...
















Carlos Guerreiro



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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A ocasião faz... o espião

“O nacional indicado, encontra-se detido sob a acusação de ter colaborado em uma organização de espionagem a favor de uma potência em beligerância. Essa colaboração residiu no facto do mesmo ter cedido à organização uns mapas da ilha de S. Miguel e nos quais apôs as respectivas posições de tropas ali concentradas”.


Gravura inserida num conto de espionagem -  "O mistério do sector Z", de Pinto Guimarães - publicado no Século Ilustrado de 28 Janeiro de 1939.
(Colecção do Autor)

As acções de Clemente M. são assim referidas, de forma sucinta, num relatório enviado pela Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE, antecessora da PIDE) ao Ministro do Interior, Botelho Moniz, em Dezembro de 1944.

O filho enviara uma carta onde pedia a libertação do pai, pelo menos para passar com ele o natal. A detenção ocorrera em Janeiro de 1944, mas a situação continuava pouco clara para a família. Sabiam que tinham ocorrido várias prisões relacionadas com o mesmo caso, mas apenas Clemente se mantinha atrás das grades.

A PVDE tinha, de facto, efectuado mais do que uma detenção na sequência da venda do mapa aos serviços de espionagem alemães, mas concluíra que os restantes arguidos ou não tinham colaborado no esquema, ou o tinham feito de forma inocente.

Clemente M. era amigo do Major Tomáz I., colocado em S. Miguel e aproveitou essa amizade para colocar várias perguntas ao militar, quando este se deslocou ao continente na sequência de uma promoção. Foi assim que soube os locais onde estavam acantonadas tropas, “bem como outros elementos, os quais lhe facultaram a confecção do “cróqui” fornecido à organização”, refere o relatório da PVDE. O preço cobrado pelo mapa não é referido.

A carta do filho de Clemente M. é apenas uma das muitas que o ministro do Interior recebia de familiares de presos que apelavam à compaixão e à complacência. Outras vezes pediam-se apenas informações sobre as razões que tinham levado à prisão um marido, um pai ou um filho. Podiam passar-se meses sem que uma acusação fosse formulada.

Sempre que surgiam estas solicitações o chefe de Gabinete do Ministro solicitava informação à força responsável pela detenção - PVDE, PSP ou GNR.

Entre os documentos do Gabinete do Ministro do Interior, existentes na Torre do Tombo, encontram-se pedidos de informação sobre presos de delito comum, mas também sobre alegados comunistas, reviralhistas, grevistas, revolucionários e outros portugueses envolvidos em casos de colaboração com "organizações estrangeiras de actividade suspeita".

É também este o caso de Dagoberto P., mais um português que aproveitou o momento para aplicar um golpe de… oportunidade.

Em Novembro de 1944 a mulher Aninhas P., envia uma missiva ao ministro estranhando o atraso no processo do marido. De resto acredita que a sua prisão é um erro.

Em resposta a PVDE informa o Ministro que ainda não foi dado andamento ao processo porque este se encontra no Ministério da Guerra para que o sub-secretário de estado “se digne a dar o seu parecer sobre as penalidades a aplicar aos arguidos de nacionalidade portuguesa”.

As razões para a detenção são consideradas graves, mas não deixam de dar mostra do engenho de muitos portugueses naquele período. Diz o relatório que “Dagoberto P. encontra-se preso, por, com outros indivíduos, ter forjado informações de carácter secreto que eram vendidas a um italiano, como se fossem elementos furtados ao Ministério da Guerra, chegando ao ponto de elaborarem uma cópia «autêntica» de um documento daquela secretaria de Estado, «assinado» em nome de Sua Excelência o sub-secretário de Estado”.

E não se pense que Dagoberto era novo nestas andanças, pois já estivera “preso por idêntico delito, de 17 de Junho a 29 de Novembro de 1943, tendo sido restituído à liberdade por ordem do Governo”.

Espiões à portuguesa.



Carlos Guerreiro

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