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quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Algumas perguntas a Bernard Wasserstein

Bernard Wasserstein é o autor de “Do Holocausto à Salvação”, um livro lançado em Portugal no primeiro semestre deste ano, e que conta a história de Gertrude van Tijn, uma personalidade envolvida em alguma polémica e com participação activa nas negociações com os nazis para permitir a saída de judeus da Europa.

Van Tijn, uma alemã judaica a viver na Holanda, também passou por Lisboa, cidade que esteve no centro das rotas de saída de refugiados da Europa.

Bernard Wasserstein é Professor Emérito de História Judaica Moderna, na Universidade de Chicago, e autor de uma dúzia de livros relacionados com a história do judaísmo.

“The Ambiguity of Virtue: Gertrude van Tijn and the Fate of the Dutch Jews”, é o título original do último livro deste autor que respondeu a algumas questões enviadas pelo “Aterrem em Portugal!”.


Aterrem em Portugal: Quem era Gertrude Van Tijn?

Bernard Wasserstein: Oficialmente foi, entre 1933 e 1941, secretária do Comité de Refugiados Judeus de Amesterdão. Foi responsável por organizar o êxodo de milhares de refugiados judeus da Alemanha, e por encontrar locais de acolhimento para eles tanto no Novo Mundo, como na Palestina, na Austrália, ou noutros locais.

Entre 1941 e 1943 desempenhou um papel semelhante como responsável pelo departamento de emigração do Conselho Judeu de Amesterdão, criado pelos nazis.


Aterrem em Portugal: Qual era a importância do trabalho que ele desempenhava e o papel dos organismos que ela integrava?

Bernard Wasserstein: Ela teve um papel crucial no trabalho desenvolvido por aqueles organismos. Negociou com a Liga das Nações, o governo holandês, governos diversos, e organizações de ajuda internacional com o objectivo de encontrar soluções para a crise dos refugiados.

Aterrem em Portugal: Qual a importância de Lisboa no trabalho dela?

Bernard Wasserstein: Lisboa teve uma importância especial entre 1941 e 1943 porque era um dos poucos pontos de saída viáveis para os refugiados da Europa nazi. Foi-lhe mesmo permitido, pelas autoridades nazis de Amesterdão, que viajasse até Lisboa para uma curta visita, em Maio de 1941, com o objectivo de coordenar localmente uma importante operação de emigração de judeus da Holanda ocupada e da Alemanha.


Aterrem em Portugal: Há alguma ideia de quantas pessoas foram retiradas da Alemanha e do resto da Europa por estas organizações?

Bernard Wasserstein: No meu livro calculo que o número de salvamentos em que ela esteve envolvida, será aproximadamente de 22 mil. Dou todos os detalhes e demonstro como cheguei a estes números no meu livro.


Aterrem em Portugal: No final da guerra surgiram diversas acusações contra ela. O que aconteceu?

Bernard Wasserstein: Devido ao seu papel e ao seu trabalho no Conselho Judeu de Amesterdão, entre 1941 e 1943, houve quem lançasse suspeitas de que ela tivesse sido uma colaboracionista.

Ela tinha, de facto, negociado com os chefes das SS de Amesterdão, incluindo o tristemente célebre Klaus Barbie, com o objectivo de conseguir a libertação de judeus de territórios controlados pelos Nazis. Conseguiu assim salvar muitas vidas durante a ocupação.

Em alguns casos utilizou subornos. Noutros ajudou a organizar a troca de judeus na Holanda por civis alemães retidos pelos aliados.

O livro conta todos os detalhes e tem a documentação relativa aos casos.

Carlos Guerreiro

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